Xifópagas Capilares Entre Nós

O artista plástico Tunga foi uma das personalidades mais influentes no cenário da arte conceitual brasileira, com uma trajetória que se confunde com a própria história da arte no país. Entre as suas inúmeras e auto-referentes obras destaca-se a clássica Xifópagas Capilares Entre Nós, trabalho que mesmo quem não se interessa por togetherness fetish mas tem um conhecimento básico de arte contemporânea já deve ter ouvido falar. Misto de performance e instalação, essencialmente trata-se de duas modelos gêmeas unidas pelos cabelos e desfilando pela galeria. Não tentarei comentar os signos e significados pretendidos ou qualquer avaliação crítica, pois não é da minha alçada e tem muito material a respeito pela internet afora, mas do ponto de vista do togetherness fetish é claro que é uma imagem que merece destaque. É curioso como a impossibilidade biológico/física da existência de "siamesas unidas pelos cabelos" (ainda mais "xifópagas") e a fragilidade dessa condição (que poderia ser desfeita, sem dor ou trauma, com uma simples tesoura) atuam como potencializadoros da fantasia, de sua ressonância simbólica. Insinua uma união intencional que transcende o físico e o concreto: as gêmeas como uma entidade única, como algo que só existe e ganha sentido na união. Uma beleza que constrange, fascina, repugna e arrebata. Abaixo, algumas fotos tanto das primeiras apresentações nos anos 80, quanto de várias releituras no decorrer das décadas, fora o curta metragem dirigido por Evandro Salles.